martes, 25 de febrero de 2025

"Yo nunca guardé rebaños", de Fernando Pessoa.

Yo nunca guardé rebaños,

pero es como si los guardara.

Mi alma es como un pastor,

conoce el viento y el sol

y anda de la mano de las Estaciones

siguiendo y mirando.


Toda la paz de la Naturaleza a solas

viene a sentarse a ni lado.

Pero permanezco triste, como un atardecer

para nuestra imaginación,

cuando refresca en el fondo de la planicie

y se siente que la noche ha entrado

como una mariposa por la ventana.


Pero mi tristeza es sosiego

porque es natural y justa

y es lo que debe haber en el alma

cuando piensa que ya existe

y las manos cogen flores sin darse cuenta.


Con un ruido de cencerros

más allá de la curva del camino

mis pensamientos están contentos.


Pensar molesta como andar bajo la lluvia

cuando el viento crece y parece que llueve más.


No tengo ambiciones ni deseos.

Ser poeta no es una ambición mía.

Es mi manera de estar solo.


Eu nunca guardei rebanhos:


Eu nunca guardei rebanhos,

Mas é como se os guardasse.

Minha alma é como um pastor,

Conhece o vento e o sol

E anda pela mão das Estacões

A seguir e a olhar.

Toda a paz da Natureza sem gente

Vem sentar-se a meu lado.

Mas eu fico triste como um pôr do Sol

Para a nossa imaginação,

Quando esfria no fundo da planície

E se sente a noite entrada

Como uma borboleta pela janela.


Mas a minha tristeza é sossego

Porque é natural e justa

E é o que deve estar na alma

Quando já pensa que existe

E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.


 Pensar incomoda como andar à chuva

Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos.

Ser poeta não é uma ambição minha.

É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes,

Por imaginar, ser cordeirinho

(Ou ser o rebanho todo

Para andar espalhado por toda a encosta

A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo),

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do Sol

Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz

E corre

 um silêncio pela erva fora.


http://arquivopessoa.net/textos/1456


No hay comentarios:

Publicar un comentario